terça-feira, 3 de novembro de 2009

Ritual Feminino

"Entre um café e outro ela imaginava como sair dali. Entre um suspiro e outro, seu sangue fervilhava ao pensar no que sua atitude poderia causar.

Não era a toa que chegara aos 29 anos sem revelar o que realmente sentia. Achava que aquilo era demais para que qualquer um tomasse conhecimento. Pelo menos era o que pensava... até agora.

As coisas haviam mudado drasticamente nos últimos dias. Já não sentia vergonha de seus pensamentos e considerava, verdadeiramente, a idéia de colocá-los em prática.

Saiu do trabalho 15 minutos mais cedo. Parou no bar da esquina, no qual nunca havia entrado (mas que havia observado inúmeras vezes), e pediu uma dose de conhaque.
_ É para ganhar coragem – disse em tom de explicação ao senhor de camisa aberta atrás do balcão que nada tinha a ver com aquilo.
Escondeu os óculos de aros largos na bolsa, soltou os cabelos presos com uma grande presilha prata e desabotoou cuidadosamente o primeiro botão de sua camisa branca. Partiu.

No caminho para casa, comprou um vinho caro. Forte e suave, simultaneamente. Misterioso como o que estava por vir.
Algumas ruas depois, entrou em seu restaurante predileto e pediu a massa que melhor combinava com o vinho que levava na bolsa.
- Para dois. Para viagem, por favor.
Sabia que não havia tempo nem disposição para ela mesma preparar algo. Cheiros de tempero e fogão não combinavam com seus planos.
O jantar era apenas uma desculpa.

Chegou em casa vinte minutos depois. Colocou o vinho sobre a bancada, ajeitou a massa comprada em seu restaurante predileto em um bonito refratário e guardou no forno. Foi até o quarto deixando os sapatos pela sala e a saia pelo corredor. Adorava a liberdade de morar sozinha e poder despir-se em qualquer lugar. Debruçou-se sobre a banheira e abriu a torneira, jogou alguns sais de banho, vestiu seu roupão e voltou para a sala.

Apagou as luzes, ajeitou algumas almofadas sobre o sofá e colocou Sade para tocar. Sabia que não era um gosto comum, mas precisava daquilo para se sentir envolvida e suficientemente segura para o que se preparava. Voltou ao banho, ainda escutando a música e sentindo sua pele escandalosamente sensível.

Caminhou descalça e molhada até o quarto. Sentou-se em frente a sua penteadeira e tirou, do fundo da gaveta, um embrulho de veludo azul, arrematado com uma larga fita de cetim. Havia guardado aquilo durante anos, mas até então não imaginara oportunidades para usá-la.

Envolta por um espartilho preto, rendado e perfeitamente ajustado ao seu corpo, pegou seu melhor perfume e aplicou, estrategicamente, algumas gotas entre os seios, atrás das orelhas, na nuca e pensou duas vezes antes de pingar algumas gotas atrás dos joelhos, havia lido que ali era um bom lugar, mas não tinha certeza. Achou melhor arriscar –“Mal não há de fazer”, concluiu.

Subiu delicadamente o zíper de seu vestido vermelho, ajustou o decote e, enquanto calçava os sapatos, escutou o soar da campainha. Sentiu o corpo tremer.

Contou até dez e se dirigiu á porta. Sabia que do outro lado estava a pessoa que despertara seus desejos mais íntimos e impublicáveis. Sabia que estava pronta para realizá-los e sabia que não sofreria nada por isso".


Escrevi esse texto na intenção de escrever outra coisa. As vezes o pensamento toma rumos que não queremos... E aí acaba saindo coisa assim.
Precisava escrever um artigo sobre mitos femininos (eu ja falei dele em outro post), mas não deu (só que de hoje não passa, ja deu meu dead line)
Não é bom, mas me deu vontade de compartilhar.
E a razão de não ter fim, é que cada um sabe de suas historias. As vezes narrar o que acontece depois pode frustrar alguns pensamentos.
Digno de "Sabrina" isso. hehe

Ando meio triste... quem sabe um dia eu consiga entender ou me fazer entender em algumas coisas.
Aguardo suas criticas. Sejam elas boas ou não.
B-jos e b-jos

"O mesmo texto tudo provoca: uns te amam, outros te toleram e alguns não perdem a chance de te esculachar. Como te leem os que te odeiam
[...]
É uma aventura a cada linha, uma salada mista a cada ponto de vista. Franco-atiradores a serviço da reflexão, todos nós, os daí e os de cá, sabemos um pouco de tudo e muito do nada, e salve o bom humor diante desta anarquia, já que de algum jeito há que se ganhar a vida. "

Os bastidores da crônica - Martha Medeiros.

7 comentários:

  1. Se você queria aguçar a imaginação, conseguiu minha amiga... estou esperando esses textos de que você havia dito. Tristeza passa... um dia passa
    =]

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  2. É como diz Naiara em seu comentário: estávamos com a imaginação aguçada... e, de repente... despenca tudo. Isto não se faz Thais. Essa passagem abrupta do céu para o inferno, precisa ser suavizada. É bonita, escreve bem, pelo visto tem amigos... deve estar faltando pouco para ser feliz. Continue tentado, quando menos esperar ela há de chegar. Vá em frente....

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  3. Seu texto é muito bom, mas toda a cena que vc descreveu é uma grande lugar comum. Já a vimos nas novelas, no cinema, na literatura... Como vc não a desenvolveu, ficou o mistério no ar: quem é a pessoa merecedora de uma preparação tão dramática (conhaque no bar da esquina pra tomar coragem antes de um jantar-e-sexo-de-sobremesa me faz pensar em opções muito bizarras, rs)? E é esse o maior mérito do texto. Sugestão: prossiga, escreva novos capítulos, faça uma novela... Garanto que vai pegar.

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  4. Aí é q está, meu amigo Sérgio...
    o sexo de sobremesa ficou por sua conta.
    Como eu disse: cada um tem suas histórias.
    hehehehe

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  5. Isso poderia ocorrer numa esquina de Moscou, ou num bar ali da esquina. Fiquei pensando o motivo das coisas terem "mudado drasticamente nos últimos dias". Motivos escondidos na razão de estar ali ...

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  6. ahhhhhhh eu quero saber o resto!!! super gostei..a crônica.. só começou.. tenha certeza!! quero ela inteira!

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  7. Curto esse tipo de texto. Faz tempo que não escrevo nada ficcional, o que me deixa um pouco frustrado. Curti mesmo, passarei mais vezes por aqui!

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